domingo, 1 de janeiro de 2017

Maldições

Gostaria que teu corpo inflamasse
Como o meu, e sentisse dolorido
Tão profundo, que visse o osso descolorido
Como se apanhasse de um chicote que não visse.

E que sentisse esta Dor escura,
Cegando tua vista como uma navalha
E sentisse na cabeça o peso de uma enxada
E fora escutasse teu estomago de fervura.

E se visse acordada na maca de um legista
E que esta Dor, ora fosse um rato, ora uma vela
Que queimasse e mordesse com raiva tua canela
E que todos a olhassem como uma vigarista.

E ao espelho vomitasse por teu próprio rosto
Pálida e doente, sem unhas sobre os dedos.
E essa Dor te convencesse de todos os medos.
E desta vida não tivesse mais gosto.

E se visse urinando pelo chão como um demente
E sentisse tua lividez ainda moribunda
Fosse julgada pecadora e delas fosse a mais imunda.
Amarrada e forçada a comer sem ao menos um dente.

E que assistisse teu profundo coma de uma poltrona fútil,
Viva, desenganada, e, vencida por esta Dor carrasca
E inalasse teu próprio cheiro podre de tua casca
E como eu, se sentisse uma alma descrente e inútil.

Rastejando pelo chão como um lagarto,
Sem perna, cega e, por esta Dor, muda.
E como se há dez anos sentisse dor de parto.

Gritando à Morte sem  que ela escutasse
Mas o que penso? Meu Demônio gostaria,
Que das maiores torturas me amasse!


D. R. C


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